segunda-feira, 2 de abril de 2012

Quando eu falo pra mim...

Se há tempos atrás precisavamos sair de casa pra presenciar ou ser vítimas de alguma tragédia, hoje as coisas mudaram. Não precisamos abrir nenhum jornal, nenhuma revista, nem nada do gênero. Tragédia é capa, é primeira página, é espaço garantido. Se não nos dermos o trabalho de ligar a tv e ouvir a lista de acontecimentos bárbaros que acontecem, não se preocupe, o vizinho te avisa, seus amigos comentam, o mundo te mostra na marra. Fechar os olhos pra realidade nunca foi solução pra nada, mas se antes o trivial tinha gosto de banalidade, hoje falar de levezas e coisas simples, tem virado a exceção. Nos acostumamos com fatos absurdos, ainda que nos comovam. Assassinatos em escolas virou moda, qualquer conflito externo já não nos prende mais tanto a atenção, maus tratos com crianças nos revolta mas não tira ninguém do sofá da sala. Os hospitais são precários, mas enquanto ninguém do nosso lado fica doente a gente vai levando. A educação que podia começar com o menor gesto, acaba sendo ocupada pela vaga de deficiente que nem deficiente é. Cansa ouvir não cansa? cansa saber que em frente a tanta merda, ou fazemos parte dela ou somos moscas assistindo tudo de fora. Nossa gana é interna, nossa revolta não tem expressão, nosso grito é baixo demais. Nos fizeram acreditar que somos poucos, enquanto somos maioria. Nos fizeram acreditar que somos fracos, enquanto juntos podiamos ser mais humanos. O fato é que pras trivialidades virarem capa, nós tínhamos no mínimo que aprender a jogar fora qualquer tipo de conformismo, qualquer comodidade que nos deixa estáticos diante de tudo. Enquanto isso não acontece, não espere que nada diferente aconteça também. Não depende exclusivamente de ninguém, mas depende um pouco de cada um. Não precisamos ser heróis ou revolucionários, mas podíamos com mais frequência voltar a ser o fato bom de dias normais. Primeira capa, que assim fosse.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012




A coca-cola ta meio sem gás e o gosto de pão com margarina não parece ter o mesmo gosto.
É sexta feira, a tv ta no volume mínimo e a cada cinco minutos eu respiro fundo pra não enlouquecer. Mas você não sabe. Você não faz ideia que alguém como eu, estaria esse dia, a essas horas, escrevendo sobre amor. A gente demorou eu sei, nesse tempo todo casais terminaram e voltaram e nós não saímos do lugar. Mas dai pra minha surpresa você telefonou me pedindo pra descer. Minha cara amassada mostrava as horas, o silêncio da rua fazia eu ter que falar ainda mais baixo, e como quem tem sempre um pé atrás eu disse que não. Um não tão convicto quanto minha vontade de limpar a casa. Mas ainda assim, um ''não'' dito e maldito. Quinze minutos de conversa, de chantagem emocional, de vontades querendo ser matadas, mas de um orgulho muito maior que eu carrego até no bolso que não existe da minha camisola cor de amora. Tanto esforço pra você me dizer que já estava ali em baixo, e que seria estar na contra mão do bom senso não descer. Naquele momentos eu queria ser aquelas mulheres práticas que botam qualquer roupa, prendem o cabelo e com a maior intimidade descem de cara lavada. Desculpa mundo, mas eu ainda não sou assim. Pra quem demora no mínimo três horas pra se arrumar, eu até que fui ninja em fazer as mesmas coisas em vinte minutos. Só que dessa vez não borrar o rímel por causa das mãos tremulas e o coração na garganta, foi missão heroica. Mas você não sabe. Eu respirei fundo, chamei o elevador querendo chamar deus, e segui firme até seu carro tentando parecer a pessoa mais descolada do século. Você sorriu, beijou meu rosto, apertou minha mão e disse que gostava de mão geladas ainda que meu rosto estivesse fervendo pelo sol da manhã. O que era pra ter sido uma conversa de baixo do prédio, virou uma noite estrelada na beira da praia, com ameaças de banho de mar que não foram concretizadas. Não era pra ser romântico mas acabou sendo, e a gente seguiu com conversas profundas e engraças, até que em uma das minhas gargalhadas nada discretas, você segurou meu rosto e me fez esquecer do mundo lá fora. Não teve promessas, não teve ilusões, teve a gente, depois de tanto tempo se permitindo ao que se queria. E eu não sei onde isso vai dar, mas se não for em um lugar bonito, que ao menos não seja longe daqui.