segunda-feira, 2 de abril de 2012

Quando eu falo pra mim...

Se há tempos atrás precisavamos sair de casa pra presenciar ou ser vítimas de alguma tragédia, hoje as coisas mudaram. Não precisamos abrir nenhum jornal, nenhuma revista, nem nada do gênero. Tragédia é capa, é primeira página, é espaço garantido. Se não nos dermos o trabalho de ligar a tv e ouvir a lista de acontecimentos bárbaros que acontecem, não se preocupe, o vizinho te avisa, seus amigos comentam, o mundo te mostra na marra. Fechar os olhos pra realidade nunca foi solução pra nada, mas se antes o trivial tinha gosto de banalidade, hoje falar de levezas e coisas simples, tem virado a exceção. Nos acostumamos com fatos absurdos, ainda que nos comovam. Assassinatos em escolas virou moda, qualquer conflito externo já não nos prende mais tanto a atenção, maus tratos com crianças nos revolta mas não tira ninguém do sofá da sala. Os hospitais são precários, mas enquanto ninguém do nosso lado fica doente a gente vai levando. A educação que podia começar com o menor gesto, acaba sendo ocupada pela vaga de deficiente que nem deficiente é. Cansa ouvir não cansa? cansa saber que em frente a tanta merda, ou fazemos parte dela ou somos moscas assistindo tudo de fora. Nossa gana é interna, nossa revolta não tem expressão, nosso grito é baixo demais. Nos fizeram acreditar que somos poucos, enquanto somos maioria. Nos fizeram acreditar que somos fracos, enquanto juntos podiamos ser mais humanos. O fato é que pras trivialidades virarem capa, nós tínhamos no mínimo que aprender a jogar fora qualquer tipo de conformismo, qualquer comodidade que nos deixa estáticos diante de tudo. Enquanto isso não acontece, não espere que nada diferente aconteça também. Não depende exclusivamente de ninguém, mas depende um pouco de cada um. Não precisamos ser heróis ou revolucionários, mas podíamos com mais frequência voltar a ser o fato bom de dias normais. Primeira capa, que assim fosse.