terça-feira, 20 de abril de 2010



Mas para não sentir dor eu vou jurar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável. O quanto sua molecagem não permitiu nenhuma admiração de minha parte.
Para não sofrer não vou permitir minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem cérebro. Não vou permitir admirar coisas da natureza porque talvez eu me lembre de você ao ver algo bonito.
Não vou permitir silêncios porque é aí que o meu fundo transborda e a tristeza pode me tomar sem saída. Eu vou continuar deixando a minha cabeça me martelar porque toda essa confusão é ainda menos assustadora do que a calmaria da verdade.
A verdade é a frieza do mundo, é a podridão dos desejos, são as mentiras que a gente inventa para os outros e acaba acreditando. A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar.


Tati Bernardi.

quarta-feira, 14 de abril de 2010


Exceções existem, e eu proucuro elas todas as manhãs meu bem. Não confunda a minha entrega, com os buracos que você entrou e entra. Se eu nasci pra dentro, foi só pra não assusustar o mundo com essa clareza toda. Ser transparente custou caro demais, e você deve saber.

Hoje o meu amor, por maior que seja, ainda esconde partes por ai.

E não é romantismo, nem complexidade, nem metáfora, nem nada. Sou só eu, mais uma vez tentando gritar no seu ouvido sem poder.

terça-feira, 13 de abril de 2010


Porque o que falta não é bondade de coração não. O que falta e sempre vai faltar é essa estabilidade, é essa gente paralítica de ação, é essa cadeira de roda que faz a gente acreditar que não conseguimos sozinhos e nem com meia dúzia de apoios. Mas se não der pra mudar o quarteirão que seja o cachorro sarnento que todo mundo ignora. Se não der pra ser a casa toda, que seja o abraço de mãe que ainda se tem. Se não for o mundo, que seja o mínimo dele. Só não se aconchega nessa maca, só não se deixa apodrecer, quando o que te sobra ai é o que ta faltando ali, do outro lado.
Cansei de conformismo baseado em conformismo.
Se levanta dessa merda enquanto o mundo te implora.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Não somos desse tempo, dessa época, desse mundo. Somos juntas por um motivo que ninguém sabe. Somos a definição de intensidade. A nossa paz, a nossa paz se encontrou.



Eu to exatamente na boca do mundo. Não, não tem nada de saboroso. E essa salíva com gosto de vazio me enfia cada vez mais pra dentro. Não adianta querer ser cuspida, nem vomitada, nem nada.
A gente tem que querer com o mundo, e o mundo me quer. Ele me engole cada vez mais, quando o que eu faço é só ser mais azeda. Mas o mundo me disse que o feio também pode ser bonito, que o azedo vira doce, e que ele ainda faz a gente gostar de ser a gente.

sexta-feira, 9 de abril de 2010


Você me olhou durante alguns minutos, e eu nada podia falar. Qualquer palavra cuspida seria por em risco o mínimo de orgulho que ainda me sobra. E no fundo era isso que você queria, me ver ali de mãos atadas.
Mas antes que tudo girasse pro seu lado, eu fui embora. Fui embora pra me encolher, pra chorar baixinho, pra você nunca escutar o que grita aqui dentro.
Banalidades a parte, amor passageiro, eu quero um pouco disso Deus.

terça-feira, 6 de abril de 2010


É um absurdo a gente converter sentimentos tão opostos, quando o que a gente mais tinha era convicção. E tudo desmorona mais uma vez. Você pede um abraço e diz qualquer palavra doce, e lá estou eu, me vendo mais uma vez no chão dos seus pés. E mesmo que a tempestade seja forte e quase impossível de suportar, você vem e me da o suspiro seguinte que eu precisava. Não meu amor, você nem faz ideia de que você, sem fazer idéia, é a coisa mais linda de se olhar. E eu gosto dessa coisa secreta, desse amor inventado, que só depende do brilho dos meus olhos.

sexta-feira, 2 de abril de 2010


"Só ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses,
todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas,
peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e
risadas altas. Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube
do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de
tanto amar, de não ser boa o suficiente.
Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade,
meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente.
Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo
desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso."
T.B

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Olha, eu sei que durante a minha vida toda, ou grande parte dela, eu me doei para os outros de uma maneira maior do que eu podia. E isso nunca me fez mal não. Pra mim compartilhar sempre foi um pouco sinônimo de amor, e eu sempre amei, e muito. Parece ingenuidade, mas era uma realidade que eu gostava de acreditar. Se hoje eu me obriguei a ver as coisas mais de frente, e por que não mais feias, foi porque eu cansei de viver utopias.
Mas ainda me assusta a idéia de tudo ser tão frio, por mais envolvente que seja.
Ninguém nos obriga a tornar-se mulher, mas a vida exige isso a cada passo largo que as nossa pernas não alcançam. E agora lá vai ela, de novo, como um robô triste, que não aguenta a liberdade que tem.