quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


Há certas vulnerabilidades, que com o tempo se percebe que não passam de um dever pro mundo, pros outros, menos pra mim, suspeita. É como mudar-se de casa, de lugar, de vida, de mundo, e perceber que nada adianta, que nada tira a imobilidade de certos quadros dessa mesma casa. E é quando eu volto, que eu vejo que algumas molduras, mesmo pesadas e velhas, são as que sustentam as paisagens mais verdadeiras. O mundo exige idas. Eu continuo insistindo nas voltas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


A falta de parede, pode ser um tiro a liberdade. Mas as vezes tudo o que se pede é o mínimo de proteção. O costume ao grito, as asas, ao vôo, ao desejo de poder cobrir o mundo com cada passo, não é menor que o de pedir um grão de sanidade. Eu quero ser do mundo, eu quero me compor com a vida.

terça-feira, 10 de novembro de 2009


O sol anda brilhando bastante da minha janela, meu coração não deixou de bater mais forte pelas pessoas sorridentes do outro lado da rua, e meu cachorro embora cada vez mais velho não deixa de morder meu pé. Talvez seja necessário criar rugas de dor, pra não se esquecer nunca a experiencia de ter sobrevivido mais um inverno. Mas apesar de toda essa beleza vinda com o tempo, eu quero a limpeza do meu mundo ainda empoeirado, eu quero tirar de vez essas lonas que insistem em se camuflar comigo. Minha capacidade em dar um passo, foi a mesma que me deixou estática diante da vida. E agora eu quero "soprar forte até fazer barulho"sim como você mandou, e quero que o mundo inteiro escute e sinta toda a imensidão que eu nunca soube aguentar sozinha. Minha alma formiga, e eu nada posso fazer a não ser senti-la.

sábado, 22 de agosto de 2009


Abriram as janelas,e os ventos sem cores tocaram meu rosto pedindo respostas.


Pra alguém ganhar cor alguém sempre acaba perdendo?


Ser invisível também tem seus segredos,suas dádivas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Te faz rir,te faz rir muito,mesmo sem vontade.Te faz rir porque em meio a mornidão,qualquer gesto vale,mesmo não sendo de dentro.Mas e depois de toda a agitação,e depois de todo aquele jeito de "menina normal"?eu me pego mais uma vez no soluço de uma solidão.Só que dessa vez maior.
Acho que a minha repulsa por mim,talvez tenha um pouco dos outros,da parte pequena e podre eu diria.Ninguém aguenta uma vida-reflexo por muito tempo,eu sei,ninguém quer, nem tenta enchergar o que esta exatamente na linha dos olhos,mesmo porque os mesmos já foram ensinados a se fecharem.

sábado, 15 de agosto de 2009

Hoje eu queria poder tirar as cortinas pardas, lavar com água purinha, e deixar o sol secar até sair as pueirinhas mais empregnantes que insistem em se camuflar, com a paz de um mundo branco. Eu queria mesmo, é poder tocar e embrulhar as palavras mais bonitas e te dar de presente, em um daqueles dias que a gente se lembra de ser feliz e gosta. No nosso mundo tudo sempre foi possível. E eu amo essa grandeza. Principalmente quando ela se mostra ser gente.

Se espalha no ar e se mistura com as maiores distâncias entre mim e mim.Se perde,retorna,se perde em dobro.Eu queria poder ser um pouquinho mais palpável,eu ainda queria poder me tocar e ser tocada de alguma forma.Mas eu nunca pedi uma vida tranquila,eu nunca invejei essa normalidade em prática que todo mundo mesmo tentando ser diferente,e sendo,ainda conseguem ser igual ao mundo inteiro.Não ter fim,tem a dádiva dos caminhos.

terça-feira, 28 de julho de 2009


Me parece que a gente tem que ser atriz pra tudo.O que não nos importa,e que era pra nos importarmos?eu não faço mais esforços.O silêncio que me tomou por um tempo por dentro,hoje resolveu tornar-se um envolto pra chamar atenção.Nunca chamou,nem a minha,nem a de ninguém.
Talvez faça parte do meu velho cansaço de me carregar,mas de uma vez por todas eu também cansei dos outros.Logo eu que sempre gostei de ver os outros sendo algo que eu nunca fui.Mas cansei desse egoísmo disfarçado que todo o mundo carrega,tentando fingir alguma coisa que nem sabem querer.Disseram que é bonito.E eu que sempre defendi que nada adianta fazer teatro,hoje me vejo usando a primeira mascára que me aparece na frente de uma platéia mais suja ainda.É claro que eu percebo a arrogância no ar,e por um dia que seja eu quero ser assim e deixar toda uma doçura pra trás.

domingo, 28 de junho de 2009


Pscicólogas de nós mesmas, tentando amenizar qualquer desespero que venha do menor detalhe possível. Porque ser mulher é assim, é se desesperar mesmo com as menores coisas. Se vale a pena ou não, isso é outra história, que a nossa velha amiga ira te soprar nos ouvidos:"você só sabe arriscando". As vezes vale, as vezes, muitas, não. Mesmo assim eu não nasci pra ficar do lado de fora da coisa, seja lá dentro o inferno ou não.

sábado, 9 de maio de 2009


O moço do poço andou botando a cabeça pra fora. Ele ta me oferencendo aquelas mãos de "vem comigo"cheia de calos e amarela do cigarro que ele fuma. Apesar de eu não parar de rodiar aquele lugar, não é ali que eu quero cair de novo. Eu só queria um lugar de verdade, um lugar que me puxasse com tanta força quanto essa casa de pedra.

domingo, 22 de março de 2009

Agora é dia feito e de repente de novo domingo em erupção inopinada. Domingo é dia de ecos quentes, secos, e em toda a parte zumbidos de abelhas e vespas, gritos de pássaros e o longínquo das marteladas compassadas - de onde vêm os ecos de domingo? Eu que detesto domingo por ser oco.


Água Viva-Clarice.L

sábado, 21 de março de 2009


"se você começa a espalhar aos sete ventos,dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, 'embonitar' a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer - e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude."


Caio.F

terça-feira, 17 de março de 2009


Eu abaixei o corpo como quem se protege da chuva, mas nada me molhava, nada me tocava além de todo aquele silêncio sozinho, puro, parado no ar. E por mais irônico que fosse não era de paz que eu precisava, nem mesmo de guerras frias e sujas, o que eu queria era esse movimento, essa luta entre dois lados. Os meus trapos foram ficando ao longo do tempo, e agora nua e desprotegida, me falta coragem pra olhar sem agonias pra qualquer coisa que olhe de volta pra mim.

domingo, 15 de março de 2009

Eu engolia a seco aquele copo, com goles de qualquer coisa que me tirassem daquele estado paralítico perto de você. Foi inévitavel os detalhes, os quais ninguém jamais perceberia se não fosse eu. Mas você continuava o mesmo querido, e aquela a vontade de fugir não era maior do que a de te abraçar.

sexta-feira, 13 de março de 2009


Eu reparava o quanto te doiam aquelas cenas, aquelas as quais eu também jamais esquecera. Os nossos ombros não eram suficientes, nada era suficiente diante daqueles sentimentos grotescos. Se me perguntassem o porque daquela indignação ilimitada, eu teria de voltar a um passado marcado que ninguém enchergaria. Foi quando eu me vi em você mais uma vez, sem querer. Vira a esquerda, da um passo pra trás, esse caminho tem esquinas e eu não quero mais ninguém parado onde eu fiquei. Lamento conselhos não serem tão fortes quato a voz que grita aqui dentro, ai dentro.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


Ouve-me,ouve meu silêncio.
o que falo nunca é o que falo e sim outra coisa.
capta essa outra coisa de que na verdade falo
porque eu mesma não posso.

Clarice Lispector

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009


Eu poderia. Mesmo que diante do corpo e da alma eu ficasse sem graça e muda, eu poderia tanto te fazer sentir.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Não bastava se encolher. Pelo soluço passado, pela lágrima sempre tão fácil e sempre tão pesada, incompreendida dizias. Ela resolveu ir, ir pra longe.

Ninguém soube, ninguém se quer percebeu essa ausência,e ela mesma se deixou sem vestígios pra voltar. Quantas bobagens eram ditas! Em menos de dois mêses ela batia na minha porta, me olhava de frente, limpa e irônica, como quem sai de um vício podre. E o menos incrível, é que ela era eu.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


-É tão meu que dói falar.

-Sopra.

-Mas se o que doer não arder, se o que doer for exatamente calmo e quieto?

-Sopra forte, até fazer barulho.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Saudade do que nunca se teve, do que poderia ter sido e não foi, saudade distante mas nunca esquecida.
Seria mais fácil abandonar a roupa usada, abrir as portas e se permitir aos trajes? Mas e o cheiro? e o toque? e o conforto daquela coisa macia mesmo rasgada? não sei me desfazer assim,e talvez o jeito seja sempre esse acumulo, essas coisas umas por cima das outras. No final quem sabe reste um peso, um casaço nos ombros, uma nostalgia velha e ainda maior, mas também a proximidade e a lembrança, de algo que ficou.
Porque nesse fundo conturbado e cheio de movimentos eu ainda encontro as minhas constantes dores, mas as alegrias também. Passar borracha,seguir em frente? isso nunca foi pra mim meu bem. Continuar é permissível mas apagar não soa bem, é feio e sujo entende?.
Desculpa a forma figurativa de demonstrar essas coisas, mas se não for assim como pode ser? eu não alcanço o pé da letra nunca.

domingo, 15 de fevereiro de 2009


Esse amor sem garantias, sem histórias, sem momentos até. E que mesmo assim me toma de todas as formas criando a esperança penosa e doída. Eu não quero desamar, mas amar demais tem me me tirado os dias, juro que sim. Não sei porque é tão difícil distanciar-se de coisas que nunca foram nossas, mas que foram minhas da meneira mais inteira e bonita. Que essa coisa de reciprocidade nunca teve muito ao meu favor, mas que eu insisto diariamente em qualquer volta. Talvez por essa razão eu sempre acabe em mim, pra ter pelo menos esse silêncio estático, com falhas e ausências mas completo ao meu máximo, esse que diz ora ser abismos e ora diz ser passos. Palavras, coração, mecanismos demais. Eu quero fugir disso, dessa coisa cercada e dita, que sufoca tanto... sem me deixar abrir qualquer porta, ainda que as janelas sejam visíveis pra mim.